Reconhecida internacionalmente por denunciar a especulação imobiliária na capital mineira, comunidade tem como uma de suas principais estratégias de resistência a busca constante por uma rede de apoiadores externos. Em 2009, a construtora Modelo, proprietária do terreno, acumulava uma dívida de mais de R$ 2 milhões em IPTU não recolhidos.
Por Lívia Bacelete
Belo Horizonte - “A Dandara não joga para perder. Vamos conquistando as coisas, que para muita gente é dificuldade, mas para nós é um jeito de lutar, conquistar e nunca desistir”. O depoimento de Geílsa Rocha Lima revela o espírito do povo dandarense, forma como se autodenominam os moradores da ocupação Dandara. Geílsa vive na área desde o início da ocupação, em 2009, e garante que sem dificuldade não há luta.
Localizada entre os bairros Céu Azul e Nova Pampulha, em Belo Horizonte (MG), a Dandara está situada em uma área de 40 hectares, onde vivem cerca de mil famílias. Inspirado na companheira de Zumbi dos Palmares, o nome não foi por acaso. No início, 70% das pessoas que faziam parte da ocupação eram mulheres que empreendiam uma luta contra a escravidão do aluguel e buscavam um futuro digno para seus filhos.
Propriedade da construtora Modelo, o terreno estava ocioso desde a década de 1970 e acumulava uma dívida de mais de R$ 2 milhões em IPTU não recolhidos. “A sociedade pode falar que somos invasores, mas a gente só ocupou um lugar que estava há 40 anos vazio”, explica Geílsa, que antes de ir para a Dandara era uma pequena empresária do setor de calçados. Ela e o marido entraram em falência e viram na ocupação uma oportunidade de recomeçar a vida da família.
Uma das maiores ocupações do Brasil, a Dandara surgiu em 9 de abril de 2009, organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pelas Brigadas Populares, movimento social voltado ao trabalho nas comunidades periféricas de Belo Horizonte. Joviano Mayer, advogado popular da ocupação e militante das Brigadas Populares, lembra que a proposta inicial da ocupação era experimentar em Minas Gerais aquilo que em São Paulo foram as Comunas da Terra.
Muita casa sem gente e muita gente sem casa
Originalmente, eram cerca de 100 famílias. No entanto, em seguida ocorreu uma forte massificação com a chegada de diversas pessoas vindas das periferias da própria região e até de fora de Belo Horizonte. Isso comprometeu o projeto inicial de uma área rurbana, algo viável com um número reduzido de famílias.