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terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Nota da Frente Nacional com relação a 15ª CNS


A Frente Nacional contra a Privatização da Saúde e sua 
participação no contexto da 15ª Conferência Nacional de Saúde


Entre os dias 1º e 04 de dezembro de 2015 ocorreu em Brasília a 15ª Conferência Nacional de Saúde (CNS). Este período concentrou os esforços de milhares de conselheiros de Saúde, usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), trabalhadores do setor, gestores, instituições, entidades e militantes da área que, desde o início do ano, vinham trabalhando na construção de propostas que orientassem os rumos da política de saúde em nosso país.

Apesar de todo empenho de delegados, observadores e convidados que participaram em cada uma ou em todas suas etapas, percebeu-se que as discussões sobre os problemas pelos quais passa o setor Saúde no país não foram aprofundadas na  justa medida exigida pelo processo de desmonte do SUS que está em curso.


Questões importantes envolvidas com a defesa intransigente do direito à saúde foram tratadas de maneira superficial, apesar de manifestas na fala da quase totalidade dos participantes e presente no Relatório Base da 15ª CNS: garantia de condições de acesso a serviços de qualidade; integralidade na assistência; condições de trabalho compatíveis com o respeito a usuários e profissionais do setor; salários dignos aos trabalhadores da área, inerentes às responsabilidades envolvidas no desempenho de suas funções; combate ao processo de sub e desfinanciamento do SUS e rechaço aos processos de privatização do setor. 

Em seu lugar, prevaleceu uma “burocratização” da Conferência. A ausência de discussão de seu regulamento dificultou o entendimento da dinâmica a ser adotada nos grupos e na plenária final; a celeridade nas discussões esvaziou seu conteúdo; o processo de votação eletrônico prejudicou o debate nos grupos de trabalho e escamoteou as contradições. Estes elementos romperam com o rito que consagrava o espaço da Conferência como uma verdadeira arena de debates, contribuindo não só para a problematização da política de Saúde do país, como também para o avanço no processo de tomada de consciência e de organização das lutas dos trabalhadores por seus direitos. 

Não bastassem essas questões, a conjuntura e a forma como a Conferência foi tratada por parte da Comissão Organizadora da 15ª CNS e por membros do Conselho Nacional de Saúde também contribuiu negativamente com todo o processo já eivado de problemas.

A partir do anúncio da aceitação de um dos pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff pelo presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, ocorrido na noite do dia 02 de dezembro, a 15ª CNS tornou-se o apêndice de uma disputa que nada tem a ver com a defesa do direito à saúde e os interesses da classe trabalhadora, haja vista os inúmeros ataques ao já combalido Sistema Único de Saúde e aos trabalhadores deste país, durante o ano de 2015.

Com a justificativa da defesa da normalidade constitucional e do processo democrático do país, a despeito da ausência de debates entre os participantes sobre a situação posta, bem como consulta ao plenário para a suspensão dos trabalhos da Conferência, esta decisão foi tomada por parte da Comissão Organizadora e por membros do Conselho Nacional de Saúde diante da perspectiva da presença da presidente Dilma Rousseff na Conferência. O processo de discussão que se arrastava foi substituído pela polarização intencional que grassa a sociedade brasileira nos dias de hoje, com a finalidade de afastar a classe trabalhadora brasileira da discussão dos motivos reais da crise que se encontram no modelo econômico concentrador e submisso aos interesses do capital financeiro.

Fora Cunha e Fica Dilma foram as palavras de ordem. O “espetáculo da democracia” se resumiu nas manifestações de apoio à presidente, sem nenhum debate ou criticidade aos rumos da política de Saúde em seu governo, que apresenta fortes marcas de vinculação com os interesses do mercado (entrada do capital estrangeiro na área da Saúde; corte de recursos do setor; conivência e protagonismo com relação aos processos de privatização, por exemplo, haja vista o desmonte da rede de hospitais universitários pela criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares; focalização das políticas assistenciais; entre outros). 

A presença da autoridade máxima do país em espaços de controle social para debater os rumos das políticas públicas deve fazer parte da agenda de todo governante. Condenável é o aparelhamento destes espaços que os resume a um simples palanque para o exercício de uma política populista que só contribui com o apassivamento da luta da classe trabalhadora.

Tendo como horizonte a construção de um projeto de orientação classista, a Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde (FNCPS), através de seus fóruns municipais e estaduais, participou ativamente de todas as etapas das conferências de Saúde, o que se evidencia pela presença de inúmeras propostas formuladas e defendidas pela Frente no Relatório Nacional consolidado da Etapa Estadual e apresentado para discussão dos grupos na 15ª Conferência Nacional de Saúde. Outro aspecto a ser ressaltado é a expressiva subscrição de 1.343 delegados participantes da conferência na moção proposta pela Frente (clique aqui), aprovada pela maioria do plenário, sendo a moção com maior número de assinaturas.

Estão claros os desafios que se apresentam para a FNCPS e para todos os lutadores que defendem o SUS. A partir particularmente da eleição de Dilma e da edição da 14ª Conferência Nacional de Saúde, foi estabelecida uma aliança tácita entre o governo e o Conselho Nacional de Saúde, que não somente tem limitado sua atuação a defesa de bandeiras genéricas que são de certa forma sintonizadas com os próprios interesses do governo, mas também tem consolidado o flagrante e reiterado descumprimento das deliberações e transformado as conferências em mero cumprimento de uma formalidade burocrática, fenômeno este com graves repercussões em todo o país, nos conselhos e conferências municipais e estaduais de Saúde.

Conseguir êxito nesse embate ideológico exige da parte da Frente e de seus integrantes em todo o país, uma contínua e crescente capacidade de organização e uma atuação cada vez mais direta e qualificada com inserção em todos os espaços constituídos, institucionalizados ou não, de modo a resgatar a autonomia e independência do controle social (eixo Participação da Comunidade do Sistema Único de Saúde) e a sua capacidade de resistência, intervenção e definição de proposições na defesa da saúde e do SUS.

Apesar de todos os problemas ressaltados, seguimos acreditando na participação social, na luta dos trabalhadores em defesa do SUS e nos embates com vistas à superação da sociedade capitalista, o que pressupõe a defesa de uma sociedade justa, plena de vida, sem discriminação de gênero, etnia, raça, orientação sexual e sem divisão de classes sociais! 

FRENTE NACIONAL CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE
Janeiro de 2016


quarta-feira, 8 de julho de 2015

Plenária do CMS Porto Alegre aprova moção de repúdio à criminalização de conselheiros


O presidente do Conselho Regional de Serviço Social (CRESS/RS), Alberto Terres, está sendo processado pelo ex-Secretário Municipal de Saúde, Carlos Henrique Casarteli, junto com mais dois conselheiros municipais de Saúde, por terem denunciado a terceirização e irregularidades nos contratos de exames diagnósticos de análises clínicas em Porto Alegre

Por Mariana Pires, 
Engenho Comunicação e Arte

Na última quinta-feira (02/07), em uma a plenária do Conselho Municipal de Saúde de Porto Alegre (CMS), foi analisado o segundo relatório do Grupo de Trabalho (GT) que investiga a ausência de uma Política de Exames Diagnósticos de Análises Clínicas na Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre (SMS). Além disso, frente à criminalização do trabalho do GT (saiba mais clicando aqui), o CMS produziu e aprovou uma Moção de Repúdio contra o ex-secretário de Saúde, que impetrou uma ação penal contra os/as conselheiros/as do CMS, e o atual secretário municipal de Saúde e sua assessora, que são testemunhas no processo. Veja a íntegra da Moção ao final desta notícia. 

A ação decorreu das denúncias feitas no primeiro relatório do GT, apresentado na plenária do CMS em 08 de maio de 2014. “Esta ação é contra todo o Conselho Municipal de Saúde, o Controle Social e os movimentos sociais que ousaram questionar a prática de gestão do ex-secretário”, afirmou Terres, que também é conselheiro de Saúde. Para Maria Letícia, conselheira da Glória, Cruzeiro e Cristal, o processo é um equívoco, pois o SUS é do povo brasileiro e deve ser defendido pelo Controle Social. “Está na hora da Secretaria de Saúde mostrar que tem responsabilidade com a sociedade e tomar uma providência neste caso”, ponderou.

A audiência da ação penal está marcada para o dia 09 de julho de 2015 as 09h00. O Fórum em Defesa do SUS do Rio Grande do Sul contratou um advogado criminalista para defender @s conselheir@s. 

Denúncia

Através de escuta dos trabalhadores dos laboratórios, análise de documentos e relatório da Comissão de Fiscalização do Conselho Municipal de Saúde (CMS), @s conselheir@s comprovaram o gasto de mais de 1 milhão e duzentos mil reais por mês da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) com os laboratórios privados. Estes repasses são realizados sem nenhum tipo de contrato ou licitação, como preconiza a Lei 8.666/1993. O CMS entregou essa denúncia à Polícia Federal, ao Ministério Público, ao DENASUS e às promotorias estaduais de Justiça Criminal, de Direitos Humanos e de Patrimônio Público.

O GT do conselho questionou quais os critérios utilizados na distribuição de cotas de exames enviados a cada laboratório e o valor investido em laboratórios públicos e privados pela SMS. Na prestação de contas de 2012 do Tribunal Regional Eleitoral, há referências de doações de proprietários de laboratórios, fornecedores de equipamento e kits para diagnósticos de exames laboratoriais para a campanha eleitoral do então secretário de Saúde, Carlos Henrique Casartelli.

sábado, 21 de julho de 2012

“O Conselho Nacional de Saúde foi silenciado”



O Conselho Nacional de Saúde tem como missão a deliberação, fiscalização, acompanhamento e monitoramento das políticas públicas de saúde, segundo a sua própria apresentação. Entretanto, atualmente, esta entidade importante na garantia do cumprimento de um dos princípios do SUS - a participação da comunidade, está com sérias dificuldades de atuação. Esta é a avaliação de Francisco Batista Júnior, servidor da saúde e ex-presidente do Conselho Nacional de Saúde e hoje membro da mesa diretora do Conselho.

Fonte: http://blogdoespacoaberto.blogspot.com.br 
Para Júnior, este é o segundo grave momento que o Conselho enfrenta. Ele exemplifica a situação com acontecimentos das ultimas semanas sobre os quais o Conselho só tomou conhecimento pela imprensa: o anúncio de R$ 210 milhões para hospitais filantrópicos, R$2,7 bilhões na construção de 900 novas UPAS e a possibilidade de construção de um plano de carreira para os médicos do SUS. "São três informações que vão contra o que temos debatido, acumulado e proposto, desrespeitando as decisões do Conselho. A gente tem tomado conhecimento através de terceiros, da imprensa, porque nada disso foi colocado oficialmente", denuncia.

Júnior conta que na mesma portaria que libera os recursos para os hospitais filantrópicos, também há a liberação de R$ 102 milhões para os hospitais universitários, o que na opinião dele, é extremamente urgente e necessário, entretanto, a liberação de recursos para os filantrópicos contraria as discussões que tem ocorrido no conselho e entre os movimentos sociais da saúde. "Ao invés de fazer um esforço para estruturar a rede pública, o governo continua financiando de forma vultosa a rede privada, enquanto a rede publica está à míngua", completa. Da mesma forma, acrescenta, a implantação de novas UPAS vêm acontecendo de forma desestruturada, com a substituição de outros serviços essenciais, ao que o conselho se opõe, assim como à carreira estritamente para os médicos, quando há um acúmulo da necessidade de uma carreira única para todos os profissionais do SUS. "No mês passado pautamos este tema no Conselho, porque os médicos corretamente estão empenhados nesta proposta, e o Ministério em nenhum momento disse que estava fazendo discussão a respeito. Fizemos um bom debate no Conselho, e mais uma vez reiteramos a necessidade de construir a carreira única para o SUS. O ministro da Saúde e presidente do Conselho coordenou a reunião e esse ponto de pauta, inclusive, aí depois somos surpreendidos com a matéria sobre isso hoje (19/07) no Correio Brasiliense", questiona.

Nesta entrevista, Francisco Júnior fala sobre o histórico e os desafios atuais do controle social no SUS, além do momento político que o Brasil enfrenta, considerado por ele, um dos mais difíceis. A entrevista foi realizada durante o Seminário da Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde, em Maceió, de 7 a 10 de junho. No dia 19 de julho, Júnior complementou as informações em uma entrevista pelo telefone.


A partir da sua experiência no Conselho Nacional de Saúde e sua militância como trabalhador da área da saúde, como você analisa os atuais desafios do controle social?

Qualquer processo político de cunho ideológico, principalmente acontecendo num país como o Brasil, com as particularidades e toda a história política que tem, sabemos que é um processo complexo e desafiante, que envolve variantes sociais e políticas, sobretudo quando tratamos de um tema mais complexo ainda que é a possibilidade do exercício da democracia participativa, particularmente na saúde e no SUS. A avaliação que temos sobre esse curto período é que a participação da comunidade no SUS, que é institucionalizada através dos conselhos de saúde, das conferências, plenárias, dos conselhos locais e distritais, sem nenhuma surpresa para nós tem acontecido de forma diversa, em alguns momentos tem avançado significativamente, em outros, retrocede um pouco.