sábado, 23 de fevereiro de 2013

A Prefeitura e o crack: "na calada da noite"!


(Será que alguém ainda fala em AÇÃO SOCIAL E/OU DE SAÚDE?)

Por Márcio Amaral


NOTA: este texto estava preparado há várias semanas. Por motivo de férias da equipe organizadora do blog, ficou aguardando publicação. As operações da Prefeitura, "na calada da noite", tornaram-se rotina. Por isso, ele continua dolorosamente atual. Na última ação, tiveram o "apoio" (certamente desastrado) voluntário e enxerido do psiquiatra que adora o poder dos cassetetes, Jorge Jaber. Nessas horas, aparecem sempre os abutres e pescadores de águas turvas.

A Prefeitura e o crack: na calada da noite!

Nunca ninguém reportou uma AÇÃO SOCIAL e/ou DE SAÚDE realizada na "Calada da Noite" e através de uma verdadeira operação de guerra. Este mesmo Blog até assinalara o quanto a morte de uma criança como que manietara as autoridades Municipais. Afirmamos mesmo, que novas "Operações" somente recorrendo ao fechamento da Avenida Brasil nos dois sentidos, coisa que não é muito simples e fácil de ser fazer. Pois não é que o fizeram? Só que às 3hs da madrugada. E "O Globo" - essa espécie de órgão oficial da Prefeitura para assuntos ligados ao Crack e de natureza policialesca - ainda teve a desfaçatez de chamar a operação de "acolhimento"*. 

Cabe a pergunta: HAVIA, ENTRE OS QUE DELA PARTICIPARAM (da primeira "na calada da noite"), PELO MENOS UMA PESSOA COM FORMAÇÃO MÉDICA, EM PSICOLOGIA, SERVIÇO SOCIAL OU ENFERMAGEM? Caso contrário, a discussão sobre o caráter da operação estaria simplesmente encerrada.

A participação de profissionais com aquele tipo de formação, especialmente aqueles que exercem cargo de chefia muito próximos aos centros geradores das sua políticas sociais, precisa ser discutida. Sei de vários colegas, com um passado de lutas contra o regime militar - também historicamente ligados à lutas libertárias e à Reforma Psiquiátrica - que se encontram naquela situação. A luta política tem mesmo muitas contradições e nossos adversários também. Não sou nenhum purista, mas há que se ter em mente que, por vezes, pensamos estar explorando as contradições dos adversários, quando, em verdade, são eles que estão tirando dividendos dessa aproximação conosco. Afinal, não há mais dúvidas: A VERDADEIRA FACE DESSA PREFEITURA É POLICIALESCA E HIGIENISTA.

Essa conclusão, aliás, não foi "autorizada" apenas a partir das ações contra os usuários de "crack". Sua ação de remoção dos "escombros" - mas também de corpos, tratados como entulho - do prédio desabado há um ano (menos de 48hs depois do desabamento) foi também um ato de inspiração HIGIENISTA. Seu referencial principal nunca foi os seres humanos, seus corpos e seus pertences, mas a liberação das vias e a retirada das ruas de tudo o que consideram "sujo" e "feio". Muito significativamente, somente depois dos jornais paulistas, finalmente O Globo noticiou a formação de uma Associação dos parentes dos desaparecidos durante aquela remoção (sem falar nos que sofreram PILHAGEM de seus bens, documentos e arquivos). Só esqueceu de dizer que sua maior revolta é voltada ao Prefeito e a seu profundo desrespeito para com seus entes queridos e desaparecidos. Depois dos desaparecidos da Ditadura, temos agora os DESAPARECIDOS DA PREFEITURA.

Não sou moralista, nem me sinto em condições de julgar as razões mais profundas das pessoas, mas imagino haver uma liberdade plena para a discussão das grandes questões políticas e sociais. A pergunta que uma pessoa, mantendo um cargo de chefia junto a um governo - em relação ao qual tem divergências fundamentais - deve se fazer é: tenho hoje espaço e um mínimo de autonomia para realizar algum trabalho de interesse social e necessário para as pessoas mais simples da sociedade? 

Se a resposta for sim, há que ir em frente e enquanto essas condições existirem. Também não concordo com os purismos, em geral voltados principalmente à nossa própria comodidade e a "resolver" nossa incapacidade de lidar com contradições. 

Contudo, se essas condições não mais existem; se estamos sendo reduzidos a uma falsa atividade e a apenas um cargo em uma estrutura administrativa, então parece ser hora das pessoas mais honestas consigo mesmas fazerem a denúncia da situação e a entrega da função. Caso contrário, deixarão margem a que digam estarem lá apenas por não conseguirem "voltar à planície".

E a privatização via "Organizações Sociais"

Pode alguém considerar haver algum interesse social associado a essas organizações irônicamente assim chamadas? Para que se tenha idéia do mal que causam, reporto o desabafo de uma pessoa que viu sua vida profissional de décadas ser "atropelada" por "autoridades" sem qualquer sensibilidade para lidar com o interesse das pessoas mais simples do povo:
"Trabalhei por 6 anos em um dos postos que foi privatizado, Campos Elíseos. Uma equipe completa, em que alguns profissionais já trabalhavam juntos há mais de 20 anos. Equipe resolutiva, com emergência de pequeno porte, muitos pediatras, dermatologistas, endocrinologistas; (atendendo) hanseníase, pneumologia. Vários ginecologistas (...) em harmonia, bem treinados, atualizados. Com a privatização, foram distribuídos na rede em funções distintas das suas e no Posto a população perdeu seus referenciais e a facilidade de ser atendida na mesma hora. O povo achou lindo, muito ar condicionado, muita tinta, computador, funcionários administrativos com uniforme, senha impressa (...) E os hipertensos passavam 3 meses para conseguir uma consulta; os hansenianos ficavam sem medicação; na pediatria só com marcação, sobrecarga de trabalho, irritação... Foi perdido um ambiente acolhedor, onde os pacientes eram conhecidos pelo nome, conseguiam, num mesmo dia resolver tudo (consulta, medicação, serviço social, encaminhamento para especialista)...
Em Tempo: Sou estatutária e fiquei "demitida " por 6 meses porque reclamei... Só consegui resolver via judicial, hoje sou aposentada.
Cristina Maia

Diante disso, quem poderá duvidar de que essas organizações são, em verdade, ANTISSOCIAIS?




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